Maria Nice Machado

Maria Nice Machado: Secretária de Mulheres do CNS

Iêda Leal

Ao celebrar os 38 anos do CNS, em nome de Nice rendo minhas homenagens a todas as mulheres extrativistas do Brasil. Saúdo esta mulher de luta que, para sobreviver, quebra cocos nos babaçuais do município de Penalva, no Maranhão.

É quebrando cocos que Nice vai traçando sua trajetória de resistência, a partir dos saberes da territorialidade ouvida de seu pai, Apolônio, de Joana Birgona, sua avó, de Pedro Celestino, seu bisavô, de Sebastiana Ferreira, sua tia, e de Sátiro Costa, seu tio lutador.

São as referências de luta dessa sua ancestralidade negra que fizeram de Nice liderança respeitada na luta pelos direitos territoriais, sociais e ambientais de sua comunidade penalvense do Quilombo Saubeiro, onde ela viveu até os 14 anos de idade.

Do Saubeiro, pelas mãos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Nice alçou voo para atuar,
em defesa do povo quilombola, em vasta região da Baixada Maranhense, que inclui os campos de babaçu nativo de Viana, Penalva, Monção, Pedro do Rosário, Santa Helena e Cajari.

Assim, Nice, que se autodefi ne como quilombola, quebradeira de coco de babaçu e, quando a luta permite, cantora do grupo Encantadeiras, formado por quebradeiras de coco de babaçu do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará, segue ancorada no norteamento histórico de seu pertencimento.

Sim, quando a luta permite, porque, desde os anos 1970, Nice vem reunindo lideranças de 180 comunidades quilombolas do campo, da floresta e das águas, hoje divididas em quatro territórios: Enseada da Mata, Formoso, Monte Cristo e Sansapé, e, desde 2019, responde como Secretária Nacional da Mulher Extrativista no Conselho Nacional das Populações Extrativistas.

Com seu povo mobilizado, Nice começa a organizar as primeiras associações da região, sediadas em casas feitas de taipa e cobertas de palha. É por meio dessas associações que o povo de Nice resiste contra a violência agrária,
que tenta expulsar as famílias quilombolas de seus territórios.

Nice, eu ainda não conheço você. Sua história me chegou pelas mãos generosas da companheira Edel Moraes, do MMA. Mas eu sei que somos companheiras. Seus mais de 40 anos de luta merecem respeito e reverência, sobretudo por seu exemplo de mulher negra que, quebrando cocos e cantando loas à vida, vai forjando esse Brasil inclusivo e forte que buscamos construir.

Iêda Leal – Secretária de Combate ao Racismo da CNTE; Secretária de Comunicação da CUT-GO; Tesoureira do SINTEGO; Coordenadora Nacional do Movimento Negro Brasileiro.