SINDICATOS

“O sindicato no Acre surgiu dos empates, não foi criado para organizar os empates, os sindicatos foram frutos dos empates. Foi em razão dos conflitos que estavam acontecendo na região que houve a necessidade de se criarem os sindicatos.” É assim que o presidente do CNS, Júlio Barbosa de Aquino explica o surgimento outros companheiros e companheiras contam como nasceram os Sindicatos no Acre. (Vozes d Floresta, 2008).

DOM MOACYR

Quando o João Maia chegou para fundar os sindicatos, o pessoal já estava preparado. As reuniões aconteciam sempre em ambiente de igreja. A polícia era corrupta até o osso; os políticos, uns incapazes; e o Exército um bando de gente com medo do comunismo e da subversão (a maioria sem saber o que era isso, mas sempre com medo). A violência contava com a total conivência das autoridades, a polícia era corrupta e vendida, e o Exército vivia apavorado. O João Maia é uma pessoa que não pode ser esquecida: ele foi um homem corajoso, que teve o valor de organizar os seringueiros Contag que veio ao Acre fundar os sindicatos. Um ex-seminarista alegre e brincalhão que gostava de falar em latim comigo. Tinha uma marca, que era o diálogo com todos, ele sempre me dizia: “Dom Moacyr, aprenda isso: o diálogo é a chave da sobrevivência nessa terra.”  Ele lutava por um sindicalismo independente, mas nem por isso deixava de conversar com o Governador, com a polícia, com o Exército. Formou excelentes lideranças e fundou muitos sindicatos. Era destemido. Foi dele a ideia criativa de prender os jagunços durante o mutirão que os sindicatos fizeram em Boca do Acre, no Amazonas. Junto com o João Maia estava sempre o Pedro Marques, advogado didático que tinha um jeito muito especial de ensinar o Estatuto da Terra e o Código Civil aos seringueiros. (Vozes da Floresta, 2008).

ELSON MARTINS

O desmatamento e as queimadas avançavam sobre os seringueiros remanescentes, as famílias eram expulsas com a conivência ou omissão da polícia, da justiça, dos políticos e do governo. Entre as poucas vozes discordantes estavam o Bispo do Acre e Purus, Dom Moacyr Grecchi, e o delegado da Contag, João Maia da Silva Filho. Dom Moacyr trabalhava com a Teologia da Libertação através das Comunidades Eclesiais de Base, e o João Maia começara a organizar os sindicatos de trabalhadores rurais. Durante a criação do Sindicato de Brasiléia, Chico Mendes apresentou-se desinibido e alegre, ajudando o pessoal que não sabia ler a preencher as fichas de filiação. O empolgamento era tanto que João Maia comentou comigo se ele não seria alguém infiltrado no Movimento pelos fazendeiros. Conheci o Chico nessa ocasião, em dezembro de 1975, e logo percebi que ele era alguém especial. O Sindicato acalmou a situação nos seringais Carmem e Sacado [onde morava dona Valdiza Alencar], mas o acordo baseado no Estatuto da Terra e aceito pela Contag, através do qual os seringueiros receberiam pequenos lotes de 50 hectares, cedidos pelos fazendeiros, não deu certo. A colocação de seringa media 300 hectares, e não existia o elemento cerca. Nas assembleias dos trabalhadores germinou, a partir desse fato, a ideia das Reservas Extrativistas, posteriormente defendida por Chico Mendes, que se tornou modelo de reforma agrária na Amazônia. (Vozes da Floresta, 2008).

GOMERCINDO RODRIGUES

Já conhecia o Chico do Movimento, porque ele era a principal liderança na época. Antes de ser líder em Xapuri, ele vinha de uma militância forte no Sindicato de Brasiléia, do qual participou da fundação em 1975, e foi eleito o secretário-geral da primeira diretoria. O STR de Brasiléia foi a primeira organização forte dos trabalhadores no Acre e o segundo sindicato fundado no Estado (o primeiro foi na cidade de Sena Madureira). Depois, Chico veio para Xapuri e, em 1977, se elegeu vereador pelo MDB e ficou no mandato até 1982, com uma atuação fantástica. (Vozes da Floresta, 2008).