EMPATES DE DERRUBADA

Empates foi uma forma de resistência pacífica, criada pelos seringueiros e seringueiras do Vale do Acre, para tentar “empatar” a derrubada das florestas da região, que estavam sendo destruídas pelos destruidores vindos do Centro-Sul do País, que eram todos chamados de “paulistas”, para derrubar os seringais e colocar em seu lugar a pata do boi. Em depoimentos históricos, vários seringueiros e seringueiras (e por seus aliados e aliadas) contam como foram os empates. Seguem alguns dos depoimentos:

CARLOS WALTER PORTO GONÇALVES

O empate consistia na reunião de homens, mulheres e crianças, 
sob a liderança dos sindicatos, para impedir o desmatamento da floresta. Essa prática se tornaria emblemática da luta dos seringueiros.”

CHICO MENDES

Em 79, o maior movimento rompeu-se no Acre e chegou ao município de Boca do Acre, no Estado do Amazonas. Um grupo de seringueiros são ameaçados por jagunços e pistoleiros. Por aqui nós mandamos 300 homens para cercar o acampamento dos pistoleiros. Tomamos todas as armas deles. Não estive lá, mas o companheiro Raimundo, meu primo, esteve. Esse foi o primeiro movimento mais forte que se rompe e cresce no Acre, liderado pelo companheiro Wilson de Souza Pinheiro, presidente do Sindicato de Brasiléia. Essa ação repercutiu fortemente, e como naquele momento Wilson Pinheiro era a figura principal: nos empates de derrubada, em todo o Acre. No mês de junho, todos os fazendeiros da região se reúnem e decidem pela morte de Wilson Pinheiro e Chico Mendes, que naquele momento estava começando a crescer como liderança.

CECÍLIA MENDES

Lembro bem da confusão daquela época. A gente passou três meses no Empate do Cachoeira. Um monte de gente. Era empatar, empatar, empatar: era gente pra aqui e pra acolá, até que vencemos. A nossa greve, o nosso empate começou no mês de março e ficou até abril, maio e junho. Depois acalmou. O Chico e o pessoal continuaram lutando. Uns dias antes de morrer, ele veio aqui e falou comigo: “Tia, agora acabou, agora o Cachoeira é nosso mesmo. Agora todo mundo vai ser dono da sua colocação, todo mundo vai ser dono do seu lugar. Só que toda essa luta vai custar sangue, e o sangue que vai derramar é o meu. “E eu dizia: “Deixa disso, meu filho.” Mas ele me dizia: “Não, tia, não tem jeito: o seringal é nosso, mas eles vão cobrar o meu sangue por isso.” E foi mesmo. O Chico sabia que tinha que morrer para deixar o Cachoeira nas mãos dos seringueiros. 

LEIDE AQUINO

O que mais me marcou naquele tempo foi o Empate do Cachoeira,  porque foi uma luta de todos, com a resistência feita pela participação direta de cada um e cada uma de nós.  Eu lembro-me que nós ficamos mais de 30 dias acampados, sempre 200, 250, 300 pessoas se revezando. Era um revezamento diário,  um movimento de esperança. Esse foi o meu batismo de fogo no Movimento.