Carta para o Mano Chico Mendes
Pedro Ramos de Sousa
Mano Chico, seu nome hoje é símbolo da luta dos seringueiros, dos ambientalistas; é símbolo do desenvolvimento sustentável e do ecologicamente correto. Seu nome hoje é grande e respeitado por toda gente que deseja um sistema
econômico sem as mazelas da depredação ambiental e da contaminação do solo, da água e do ar.
Depois que você morreu, mano Chico, seu ideal e seu nome ajudaram a criar as quatro primeiras reservas extrativistas, e muitas outras vieram depois, melhorando a qualidade de vida das pessoas da floresta, que foram a razão maior da sua luta.
Mano Chico, foi realizada no Brasil a Eco-92, onde se lançou a Carta da Terra, e depois a Rio+20, e depois dela o Brasil continua participando de muitas conferências mundiais e assinando acordos e tratados, inclusive recentemente assinou o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas.
Mano Chico, em 2002 o nosso querido Lula foi eleito presidente do Brasil, e se reelegeu em 2006. Em 2010 foi eleita a Dilma, que também se reelegeu em 2014, mas foi deposta em 2016 por um golpe do Parlamento com o Judiciário e com a mídia; agora, mano Chico, ela é presidenta de um banco chamado BRICS e foi morar lá na China.
Depois disso, prenderam o Lula por 580 dias pra ele não ganhar as eleições de 2018, acabou sendo eleito um genocida inominável que tentou acabar com nosso movimento, mas felizmente ele perdeu as eleições de 2022, e não é que o Lula voltou de novo, em 2023, num governo de união e reconstrução, mano Chico?
Mano Chico, no atacado o Lula e a Dilma fizeram governos muito bons, mas no varejo ficaram nos devendo. E o pior, mano Chico, é que por agora não vamos ter como acertar essa conta, porque o governo que entrou depois de derrubar
a Dilma deu logo um jeito de acabar com as nossas conquistas da agricultura familiar e tem tentado de todo jeito fechar os programas indígenas.
Mano Chico, o latifúndio da monocultura de exportação continua grilando nossas terras e se apossando dos nossos territórios. O desmatamento, a degradação ambiental e a contaminação das nossas águas continuam graves.
Está faltando você por aqui, mano Chico, para trocar uma prosa com os poderosos que continuam dominando nosso país a partir dos gabinetes de Brasília.
Mano Chico, quanto a mim, ando meio perrengue, mas continuo por aqui, torcendo pelo sucesso do CNS, que nós criamos juntos e que, para incluir os novos parceiros, mudou de nome para Conselho Nacional das Populações Extrativistas, mas mantém a nossa velha sigla CNS.
Sem você por aqui, vou fazendo o que posso para seguir na nossa luta. Mano Chico, já se vão 35 anos, e todo mundo anda com muita saudade de você. Então, mano Chico, até mais ver!
Pedro Ramos de Sousa – Fundador do CNS junto com Chico Mendes e seus companheiros, no ano de 1985. Excerto de carta originalmente gravada com Pedro Ramos por Zezé Weiss, para o livro Vozes da Floresta, em 2008. Os dados de 2023 são imaginários, com base no contexto da carta