Ministras Marina e Sônia recebem “Carta das Populações Tradicionais Extrativistas” em mobilização com mais de mil pessoas na COP30

Após ocuparem as ruas de Belém (PA) com uma “poranga” na cabeça e um pavio em chamas, símbolo do seringueiro, mais de mil pessoas de diversos biomas do país entregaram a “Carta das Populações Tradicionais Extrativistas” às ministras do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, nesta quinta-feira, 13 de novembro.

Intitulado “Porongaço dos Povos da Floresta”, o ato ganhou destaque como uma das principais manifestações populares da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). O principal objetivo foi defender a integridade dos territórios tradicionais para o equilíbrio ecológico e o enfrentamento contra as mudanças climáticas — que já afetam a Amazônia.

Essa contribuição é refletida em dados científicos. As Reservas Extrativistas (RESEX) e os Projetos de Assentamento Agroextrativistas (PAE) conservam mais de 42 milhões de hectares de florestas e rios, enquanto também armazenam cerca de 25,5 bilhões de toneladas de gás carbônico (CO₂) – um dos principais gases do efeito estufa (GEE).

Ao longo de cerca de dois quilômetros, os manifestantes marcharam com a poronga, lamparina tradicionalmente usada por seringueiros para iluminar os caminhos nas noites de trabalho na mata, acesa com biodiesel sustentável, entoando cantorias, músicas, poesias, rezas e palavras de resistência que unem espiritualidade, arte e política.

O instrumento remete também aos “empates”, forma histórica de luta não violenta criada entre as décadas de 1970 e 1980 para defender os territórios coletivos contra o desmatamento e a grilagem.

Durante o ato, a ministra Marina Silva destacou a importância da manifestação para manter viva a luta dos povos tradicionais e o legado de Chico Mendes, especialmente para as novas gerações que vão dar continuidade à cultura de resistência.

“Muito do que nós aprendemos é com os povos da floresta. No começo, quando os sindicalistas ocuparam a floresta, a relação foi muito dolorosa; mas depois nós aprendemos que o melhor era fazer a ‘Aliança dos Povos da Floresta’. Esse é o recado de Chico Mendes e Ailton Krenak que, lá atrás, iniciaram essa luta”, afirmou.

Já o presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Júlio Barbosa, reiterou o valor da lamparina durante a marcha: “Seja para tirar a seringa, coletar a castanha ou pescar, a poronga é uma ferramenta de trabalho. Mas ela também foi utilizada quando nós iniciamos, há 40 anos, sob a liderança de Chico Mendes, o primeiro trabalho: a alfabetização da nossa população na floresta”.

A “Carta das Populações Tradicionais Extrativistas” enfatiza, sobretudo, que fortalecer esses territórios é fundamental para a resiliência climática do Brasil e do planeta. São seis eixos centrais de reivindicações:

  1. Reconhecimento dos territórios extrativistas como estratégias oficiais de clima, integrando-os às NDCs e aos acordos internacionais, com investimentos em proteção territorial, gestão comunitária e vigilância.
  2. Fortalecimento da sociobioeconomia, com financiamento estruturante para cadeias da sociobiodiversidade, valorização dos modos de vida tradicionais e reconhecimento das organizações extrativistas na repartição de benefícios.
  3. Financiamento climático direto, com acesso simplificado a fundos internacionais e mecanismos de pagamento por serviços ambientais, priorizando fundos comunitários como o Fundo Puxirum.
  4. Educação, juventude, mulheres e saberes tradicionais no centro da adaptação climática, com inclusão da Educação do Campo nas políticas climáticas, apoio à formação de jovens extrativistas e financiamento específico para mulheres dos territórios.
  5. Infraestrutura e mobilidade com soberania, incluindo energia limpa descentralizada, transporte sustentável, conectividade digital e soluções adaptadas à realidade amazônica para fortalecer a sociobioeconomia.
  6. Governança climática com protagonismo dos povos extrativistas, garantindo participação direta nos espaços de decisão, proteção de lideranças e reconhecimento dos extrativistas como autoridades climáticas.

A “Carta das Populações Tradicionais Extrativistas” está disponível gratuitamente por meio do link: http://cnsbrasil.org/wp-content/uploads/2025/11/Carta-CNS.pdf.